UMA HOMENAGEM Á TELEDRAMATURGIA BRASILEIRA!
por Marcos Tand
Naquele dia, a
delegacia estava movimentada. Tudo estava um inferno. Em sua sala, o delegado
estava quase arrancando os poucos cabelos que tinha, tentando encaixar alguma
coisa nessa história. Entrou a próxima testemunha. Dona Carmem não sabia o que
dizer, estava em choque.
- Juro por Deus que não
fui eu! Vou lhe dizer tudinho como eu vi: Eu tava na cozinha que fica um pouco
longe da sala de estar, a campainha tocou, mas ela fez questão de atender e
logo me dispensou. Era uma discussão feia, falavam sobre a empresa de aviões
dela. Só sei que ela o xingava de ladrão, e ele acusava ela de ter o usado e
ele disse também que se arrependimento matasse nunca teria acreditado nela. Foi
aí que ela disse “Você vai me pagar muito caro, e sabe que eu cumpro todas as
minhas ameaças! Vai se arrepender de ter me roubado, pior, de ter me conhecido!”.
Foi aí que eu gritei. Eu só ouvi o tal homem gritar desesperado. Foram três
estouros, os três tiros que mataram minha patroa Dona Raquel Assunção.
Dona Carmem foi embora
aos prantos. O delegado mandou chamar a próxima testemunha. O tal homem de quem
a doméstica havia falado Marco Aurélio, chega assustado, duro e branco como
estátua de gesso. Muito confuso.
- Foi o seguinte: Eu
estava na rua, o celular tocou, eu atendi e era ela furiosa! Eu não entendi o
motivo, mesmo assim fui até o seu apartamento como ela me pediu. Cheguei lá,
mal abriu a porta já começou a brigar, esfregando na minha cara uns papéis da
empresa que segundo ela eu roubei. Foi aí que ela me ameaçou, gritou e até me
deu uma bofetada, eu reagi. Começamos a lutar, mesmo com minha força ela me
quebrou um vaso na cabeça, daí eu só ouvi os disparos, a vista escureceu e eu
apaguei.
Já no prédio da mais
importante socialite do Rio, o porteiro, seu Geraldo desvenda tudo.
- Sim sinhô, eu vi! A
dona Solange foi que entrou aqui com o diabo nos couros! Me perguntou se o seu
Marco tava lá em cima com a D.Raquel, eu confirmei e ela saiu praguejando, dizendo
que matava os dois, nem usou o elevador. Só escutei os tiros depois, logo vocês
chegaram, mas acho que ela saiu pelos fundos aqui do edifício, não vi a Dona
Solange mais não.
A procura do delegado
dura pouco. Solange Duprat, também socialite, já estava com seu namorado Marco
Aurélio num jatinho particular, cruzando a fronteira do Paraguai.
- Marco, amor, me
desculpa por ter feito você passar por tudo aquilo. Mas, é que me enlouqueceu a
ideia de você estar no apartamento da Raquel com a Fátima, achei que vocês eram
amantes e a Raquel podia estar acobertando. Mas, quando atirei pensei que fosse
a vadia da Fátima.
- Mas de onde você tira
essas suas ideias malucas? Eu te amo. Deixa isso pra lá, já passou. O que
importa é que estamos juntos, e longe de toda aquela moralidade besta que é o
Brasil. Temos o dinheiro, é tudo nosso!
- Devo parar com o
remorso não é? Afinal, Raquel deve estar bem melhor agora do que neste mundo em
que vivia de aparências. Fui amiga até no último momento, até lhe dei seu
descanso eterno.
O Delegado nunca se perdoou por não ter sido
eficiente o bastante e se demitiu depois de ter sua reputação manchada, por
dois golpistas que deram fim a beleza e personalidade marcante de Raquel
Assunção, a famosa e eterna “Menina do Rio”.