segunda-feira, 15 de abril de 2013

"QUEM MATOU?"




  UMA HOMENAGEM Á TELEDRAMATURGIA BRASILEIRA!




por Marcos Tand




Naquele dia, a delegacia estava movimentada. Tudo estava um inferno. Em sua sala, o delegado estava quase arrancando os poucos cabelos que tinha, tentando encaixar alguma coisa nessa história. Entrou a próxima testemunha. Dona Carmem não sabia o que dizer, estava em choque.

- Juro por Deus que não fui eu! Vou lhe dizer tudinho como eu vi: Eu tava na cozinha que fica um pouco longe da sala de estar, a campainha tocou, mas ela fez questão de atender e logo me dispensou. Era uma discussão feia, falavam sobre a empresa de aviões dela. Só sei que ela o xingava de ladrão, e ele acusava ela de ter o usado e ele disse também que se arrependimento matasse nunca teria acreditado nela. Foi aí que ela disse “Você vai me pagar muito caro, e sabe que eu cumpro todas as minhas ameaças! Vai se arrepender de ter me roubado, pior, de ter me conhecido!”. Foi aí que eu gritei. Eu só ouvi o tal homem gritar desesperado. Foram três estouros, os três tiros que mataram minha patroa Dona Raquel Assunção.

Dona Carmem foi embora aos prantos. O delegado mandou chamar a próxima testemunha. O tal homem de quem a doméstica havia falado Marco Aurélio, chega assustado, duro e branco como estátua de gesso. Muito confuso.

- Foi o seguinte: Eu estava na rua, o celular tocou, eu atendi e era ela furiosa! Eu não entendi o motivo, mesmo assim fui até o seu apartamento como ela me pediu. Cheguei lá, mal abriu a porta já começou a brigar, esfregando na minha cara uns papéis da empresa que segundo ela eu roubei. Foi aí que ela me ameaçou, gritou e até me deu uma bofetada, eu reagi. Começamos a lutar, mesmo com minha força ela me quebrou um vaso na cabeça, daí eu só ouvi os disparos, a vista escureceu e eu apaguei.

Já no prédio da mais importante socialite do Rio, o porteiro, seu Geraldo desvenda tudo.

- Sim sinhô, eu vi! A dona Solange foi que entrou aqui com o diabo nos couros! Me perguntou se o seu Marco tava lá em cima com a D.Raquel, eu confirmei e ela saiu praguejando, dizendo que matava os dois, nem usou o elevador. Só escutei os tiros depois, logo vocês chegaram, mas acho que ela saiu pelos fundos aqui do edifício, não vi a Dona Solange mais não.

A procura do delegado dura pouco. Solange Duprat, também socialite, já estava com seu namorado Marco Aurélio num jatinho particular, cruzando a fronteira do Paraguai.

- Marco, amor, me desculpa por ter feito você passar por tudo aquilo. Mas, é que me enlouqueceu a ideia de você estar no apartamento da Raquel com a Fátima, achei que vocês eram amantes e a Raquel podia estar acobertando. Mas, quando atirei pensei que fosse a vadia da Fátima.

- Mas de onde você tira essas suas ideias malucas? Eu te amo. Deixa isso pra lá, já passou. O que importa é que estamos juntos, e longe de toda aquela moralidade besta que é o Brasil. Temos o dinheiro, é tudo nosso!

- Devo parar com o remorso não é? Afinal, Raquel deve estar bem melhor agora do que neste mundo em que vivia de aparências. Fui amiga até no último momento, até lhe dei seu descanso eterno.

 O Delegado nunca se perdoou por não ter sido eficiente o bastante e se demitiu depois de ter sua reputação manchada, por dois golpistas que deram fim a beleza e personalidade marcante de Raquel Assunção, a famosa e eterna “Menina do Rio”.