"Bueller...Bueller...?"
Um sobrenome que se destacou como
neon na década de oitenta e se mantém consagrado até os dias de hoje. Dia
desses fui na Loja Americanas aqui perto de casa e como sempre faço, logo que
entro vou direto à sessão de DVD's. Chegando lá, havia uma prateleira enorme de
clássicos de décadas passadas, porém uma em edição de colecionador me chamou
muita atenção. Não, eu ainda não tinha o Box "supra-sumo" de CURTINDO
A VIDA ADOIDADO, então o levei pra casa e só consegui assistir completo com
todos os extras neste final de semana. Foi prestando atenção em cada frase, em
cada take, sub-texto e interpretação dos atores que eu consegui perceber a
grandeza desse filme teen que marcou toda uma geração.
A
história de “Curtindo a Vida Adoidado” (1986) é simples. Ferris (Matthew
Broderick) decide tirar um dia de folga da escola. Para isso, ele convence seus
pais de que está doente, monta um esquema para não ser descoberto e coloca em
prática uma animada programação junto com seu amigo Cameron Frye (Alan Ruck)e a
namorada Sloane Peterson (Mia Sara). O passeio inclui “pegar emprestada” a
Ferrari do pai de Cameron, fingir que a avó de Sloane morreu, se passar por
magnata para conseguir uma mesa em um restaurante, visitar um museu, juntar-se
a um desfile comemorativo pelas ruas da cidade e um banho de piscina.
Ferris não é fã de regras e sua filosofia é "aproveitar a vida antes que seja tarde". Por causa de seu carisma e simpatia, é querido por todos os colegas de escola assumindo assim um papel de líder de uma revolução que ultrapassa as telas e se reflete constantemente na vida cotidiana, efeito resultante também da marcante interpretação de Broderick falando diretamente para a câmera do genial diretor John Hughes (que também roteirizou e produziu o longa). Dentro de seu círculo social, Bueller é um exemplo, a inspiração para que os amigos consigam suportar as provações do colegial, como os professores e suas matérias "sem sentido" e os diretores carrascos. Ferris, usa todo o seu dote interpretativo (digo do Oscar, segundo ele) ao influenciar quem for preciso para conseguir seu dia de "Rei da Zueira". John Hughes escreveu um retrato bem-humorado de algumas das dificuldades, dúvidas e angústias dos jovens frente à aproximação da vida adulta. E as transgressões de Ferris servem essencialmente para abordar esses temas.
John
Hughes ficou conhecido como o roteirista e diretor da juventude americana. Foi
responsável por filmes como “A Garota de Rosa-Shocking”, “Clube dos Cinco”, "Gatinhas e
Gatões", "Mulher Nota 1000", "Esqueceram de Mim" etc... sempre com um pé na rebeldia dos
adolescentes quanto à pressão social, a vontade dos pais, independência e a
dificuldade de se encontrar. Com um texto sempre bem elaborado, os filmes de
Hughes conseguem aproximar expectador e personagens. Em CURTINDO A VIDA ADOIDADO
isso é ainda mais explícito e eficiente, pois o diretor utilizou o recurso de
colocar o seu protagonista falando diretamente para a câmera. A quebra dessa
barreira entre tela e público ocorre logo no começo do filme, quando Farris
compartilha seu plano para o dia e explica suas razões. E assim, o espectador
acaba cúmplice da travessura do protagonista.
A presença
dos adultos acaba por criticar a juventude que cresce com pais ausentes que pensam tanto no bem familiar (ou não) que acabam mergulhando de vez no
trabalho e traçando uma relação nada mais que superficialmente necessária com
os filhos. Tanto que o único personagem adulto que enxerga Ferris como um
"malandro" é o atrapalhado diretor Ed Rooney. Na visão dele, o
"malandro" não estuda nem se sobressai, ele apenas segue se dando bem
no colegial e isso é inadmissível (risos...Não consigo não rir lembrando da
cena do Rottweiller).
Entre
outras participações ilustres temos a antipática irmã do anti-herói, Jeanie
Bueller, muito bem defendida pela ainda jovem Jennifer Grey, e também Charlie
Sheen, fazendo o garoto drogado. Os dois protagonizam a hilária cena da
delegacia.
CENAS
MARCANTES
São
muitas, mas na minha opinião e melhor de todas sempre será a cena da parada
alemã de Chicago, onde Ferris se infiltra num carro alegórico e faz uma
performance de "Twist and Should" dos Beatles. Nessa cena existe uma
mensagem subliminar pouco antes de Ferris invadir o carro alegórico: Sloane e
Cameron estão papeando sobre o futuro e suas incertezas...
"Cameron- Eu não sei o que eu vou
fazer...
Sloane- Faculdade.
Cameron- É? De quê?
Sloane- Tem alguma coisa que te interessa?
Cameron- Nada.
Sloane- Nem a mim! (risos) E o Ferris, o
que você acha que ele vai fazer?
Cameron- Ele vai ser o precursor de alguma
coisa!(Dublagem clássica)/ Ele vai ser cozinheiro em marte! (versão legendada)"
CURTINDO
A VIDA ADOIDADO é o clássico absoluto dos filmes teen oitentistas e nunca vai
envelhecer enquanto a juventude que só quer viver o presente sem pensar nas chatices
da vida adulta respirar o ar da liberdade! SALVE
FERRIS! Abração.