Nesta segunda feira, o telespectador brasileiro teve uma grata surpresa ao permanecer na frente da TV após o término do capítulo de AMOR À VIDA. SARAMANDAIA já estreou com o pé direito ao som de PAVÃO MISTERIOSO (Ednardo), uma música épica que só de ouvir já nos lembra Juca de Oliveira voando na telinha com um par de asas, mesmo pra quem não viu a versão original da emblemática novela de Dias Gomes.
Ricardo Linhares |
Escrita por Ricardo Linhares, a nova SARAMANDAIA é digna de
aplausos. A direção de Denise Saraceni é
precisa. A fotografia está linda, juntamente com a estética colorida que dá
todo o ar de surrealismo à Bole-Bole. O elenco é de primeira, inclusive os
novatos, que aliados ao texto objetivo e divertido de Linhares conseguem pegar
o espectador no laço.
Muito da obra original foi mantido. Inclusive o carisma dos
personagens, o sotaque e vocabulário dos bolebolenses, e suas peculiaridades.
Porém, como nada permanece igual depois de quase 40 anos, a trama de 1976 era
nordestina e tinha um alto teor de crítica política, muito bem maquiado por
Dias através de metáforas e tipos nada comuns. Dessa vez, Ricardo preferiu a
não regionalização da cidade de Bole-Bole, fazendo com que ela seja única e
especial em tudo. Aliás, a cidade (em visão aérea) e efeitos especiais criados
pela mesma equipe da saga “Harry Potter” estão de parabéns!
Uma indignação: Porque cargas d’água nosso querido PAVÃO
MISTERIOSO não está como música de abertura¿ Poupe-me daquela musica
instrumental nada marcante! Já que a onda de protestos está ainda tomando conta
do país, os manifestantes saramandistas deveriam fazer um protesto “POR UMA
ABERTURA COM PAVÃO!”.
Muitas foram as novelas que faziam uso do Realismo Fantástico
pra fazer críticas sociais. Eis alguns exemplos:
"Natasha" e "Vlad" - Claudia Ohana e Ney Latorraca |
VAMP (1991) de Antonio Calmon – Como pano de fundo, a
paradisíaca e fictícia cidade de Armação dos Anjos no interior do RJ, que foi
invadida por vampiros. Ney Latorraca e Claudia Ohana brilharam. Existem seres
fantásticos mais adequados pra se discutir corrupção e política? O termo sugar
te lembra algo do tipo? Pois é, um novelão daqueles. Sucesso que chegava
facilmente aos incríveis 62 pontos de audiência. Macabramente sexy!
O BEM AMADO (1973) de Dias Gomes - Dias foi um dos primeiros
autores a usar o realismo fantástico em suas novelas. Em "O
Bem-Amado", primeiro folhetim em cores da TV brasileira, o pescador
Zelão das Asas (Milton Gonçalves) tinha o sonho de voar e construiu asas para
realizar seu desejo.
"João Gibão" - Juca de Oliveira |
SARAMANDAIA (1976 – 2013) também do Dias – a novela que me
motivou a fazer esta matéria, cheia de personagens curiosos. O Coronel Zico
Rosado (Castro Gonzaga) bota formigas pelo nariz; Marcina (Sonia Braga) provoca
incêndios com o calor do corpo; Seu Cazuza (Rafael de Carvalho) quase coloca o
coração pela boca (literalmente) quando se emociona; O professor Aristóbulo
(Ary Fontoura) vira lobisomem nas noites de sexta-feira e João Gibão (Juca de
Oliveira) que é aparentemente corcunda, esconde na verdade um par de asas e sai
voando no último capítulo. Uma das cenas mais famosas da novela é quando Dona
Redonda (Wilza Carla) explode de tanto comer.
"Professor Astromar (lobisomem)" e "Ninon" - Rui Rezende e Cláudia Raia |
ROQUE SANTEIRO (1985) é do Dias também! Kkkk – Dessa vez a
fantasia ficou por conta do professor Astromar, que virava lobisomem em noite
de lua e saía a procura da exuberante Claudia Raia. Quem já viu não se esquece
da cena que revela o mistério do professor: ele se transformando na rua em
frente o cemitério ao som de “MISTÉRIOS DA MEIA NOITE” (Zé Ramalho).
"Mulher de branco" - Cláudia Alencar |
TIETA (1989) de Aguinaldo Silva - Um dos maiores mistérios da
novela de Aguinaldo Silva era a identidade da mulher de branco, uma
"assombração" que atacava os homens. No final da novela descobriu-se
que a assombração estava mais do que viva e era Laura (Cláudia Alencar), fogosa
mulher do comandante Dário (Flávio Galvão).
PEDRA SOBRE PEDRA (1992) mais uma do Aguinaldão - Mais uma
novela onde Aguinaldo Silva usou muito realismo mágico. O fotógrafo Jorge Tadeu
(Fábio Júnior) fez muito sucesso. O personagem já estava morto, mas aparecia
para todas as mulheres que comiam uma flor que nascia sobre seu túmulo. Também
fez sucesso o personagem Sérgio Cabeleira (Osmar Prado), que tinha muitas dores
de cabeça nas noites de lua cheia e o vilão Cândido Alegria (Armando Bogus),
que virou pedra no final da novela.
"Camila" - Claudia Ohana |
FERA FERIDA (1992) Aguinaldo rs - Aguinaldo Silva baseou-se
no universo ficcional do escritor Lima Barreto para escrever esse grande
sucesso. Feliciano Júnior (Edson Celulari) transforma tudo o que toca em ouro,
inclusive sua amada Linda Inês (Giulia Gam). Também fez muito sucesso a
história de Rubra Rosa (Susana Vieira), que faz tudo ao redor pegar fogo quando
vai para a cama com seu amante Demóstenes (José Wilker). Impossível não
falar de Claudia Ohana na pele de uma mulher que dorme (pra não dizer hiberna)
durante muito tempo e só acorda quando sente o cheiro de estrogonofe de
bacalhau; detalhe: ela vai até a cozinha levitando! No final descobre-se que
ela era o anjo protetor do protagonista (contrastando com a vampira
protagonista que ela fez em VAMP).
"I Will be back! Eu voltarei!" by Maria Altiva tocando o terror no céu de Greenville. |
A INDOMADA (1997) Aguinaldo Silva - Uma das últimas novelas
onde Aguinaldo usou o realismo fantástico, "A Indomada"
apresentou situações inesquecíveis, como a cena em que o delegado Motinha (José
de Abreu) cai em um buraco e vai parar no Japão, e a cena onde Emanuel (Selton
Mello), vira anjo e voa na cidade. Uma das cenas mais famosas é o final da vilã
Maria Altiva (Eva Wilma), que depois de morrer em um incêndio, vira fumaça e
assusta os moradores, prometendo que vai voltar. Juro por Deus que quando
eu era menor, eu quase não dormi por causa dessa cena (morria de medo da Dona
Altiva). Quando Altiva invoca o raio divino contra os pecadores e o raio cai
bem na sua cabeça. Altiva prometeu que voltaria e cumpriu a promessa, pois no
final de "Fina Estampa", Tia Íris (também interpretada por Eva
Wilma), viaja justamente para Greenville, cidade onde morava Altiva. Antes de
viajar para a cidade, Tia Íris olha para a câmera e fala: "Eu não disse
que voltava?", e pisca para os telespectadores. Seria muito interessante
ver a personagem chegando em Greenville 15 anos depois, mas essa cena fica por
conta da imaginação de cada um de nós.
ATÉ A PRÓXIMA, ABRAÇO!